quinta-feira, 1 de junho de 2017

Uma Carta Para Você


É incrível como ele sempre parece estar presente no meu cotidiano, mesmo depois de anos. Agora mal consigo me lembrar da sua voz, mas me lembro do flerte, das borboletas no estomago e da sensação de ansiedade que me invadia cada vez que ele passava por mim.

Por mais que na  minha cabeça a história seja diferente, nunca de fato tivemos nada. Nem ao menos um abraço. Mas o jeito que ele me fazia sentir mesmo com um simples elogio ainda é muito real, e mesmo agora com toda a mudança que vivi nunca encontrei alguém que me fizesse sentir uma ponta de tudo o que acontecia dentro de mim todos os dias enquanto ele ainda estava por aqui. Geralmente penso que é uma benção que você nunca saberá como eu realmente me sentia, mas em dias como esse, ainda sinto sua falta.

Sonhei com você. No sonho, nos encontrávamos por acaso em um lugar repleto de pessoas, mas mesmo assim nossos olhares se encontraram. Não conseguia ver seu rosto com clareza, mas você usava azul, e me lembro de pensar no quanto você ainda continua lindo. Quando olhei novamente, lá estava ela. Bem ao seu lado, ocupando o lugar pelo qual já chorei para ter. Ela tampava o rosto como se estivesse se escondendo de mim ou estivesse muito, muito triste. Como nas fotos que vi, ela era bonita. Afinal, acho que vocês dois formam um bom casal.

Não me entenda mal: nunca mais chorei por você ou me senti realmente frustrada por não te ter. Foi melhor assim. Eu, jovem, inexperiente e cheia de expectativas. Você, mais velho, pós graduado e com sua vida caminhando em um ritmo constante. Às vezes acho que foi tudo uma ilusão da minha mente problemática louca por uma salvação, mas também há vezes em que penso na nossa situação como um verdadeiro amor que estava fadado a não durar para sempre. O fato é que me preocupa a possibilidade de nunca encontrar um substituto para o lugar que reservei para você no meu coração.

Sabe, quando acordei e percebi que você tinha vindo me visitar em sonho não dei importância. Foi só quando me sentei para escrever que me dei conta de que você ainda exerce algum tipo de poder sobre mim.  Que bom que você nunca vai saber disso.

Sei que você agora é um homem casado, bem empregado e provavelmente está até programando a chegada de filhos, mas se eu pudesse te fazer um último pedido, pediria para não me esquecer. Não esquecer do meu sorriso ou do meu cabelo que você tanto gostava. Não esquecer do que sentiu quando olhou nos meus olhos pela primeira vez (isso é algo que eu nunca vou esquecer, a forma como você pareceu impressionado e até hipnotizado naquela tarde), mas, principalmente, te pediria para nunca mais fazer isso com ninguém. Eu ainda debutava quando me apaixonei por você, e você nunca deveria ter retribuído. Tem ideia do dano que causou em mim? Tem ideia de quantas noites eu desperdicei chorando por você? Tem ideia do quão longe eu iria por você? Se naquela época você me pedisse para deixar tudo para trás e viver do nosso amor, eu teria dito sim.

Nunca mais senti nenhuma dor que se comparasse àquela que experimentei nos primeiros meses depois do nosso adeus, e quando me lembro de tudo isso, fico triste. Não por ter acabado e nem por você, mas pela garota que fui. Não se ofenda, mas gastei meu ensino médio, os melhores anos da vida de alguém, desejando estar com você. Passei todo esse tempo fechada para todos os outros garotos e homens que tentaram me fazer feliz. Não me diverti ou enlouqueci nas festas porque tinha esperança de ser sua.  Ainda hoje, me pego esperando que um clone seu apareça para eu enfim poder me entregar de corpo e alma. Por mais que eu fosse ridiculamente nova, tinha muito a te oferecer. Eu poderia ter te feito feliz. Mas, com o tempo, acredito que o nosso amor teria me matado. Eu te amava tanto que seria capaz de abrir mão da minha individualidade, dos meus sonhos e de tudo que acredito para poder te fazer sentir completo. Seria quem você quisesse. Quanta ironia, uma feminista que nem eu que ter que admitir isso. A verdade é que, naquela época, daria a minha vida em troca da sua.

Por mais que escreva mil textos como esse, sei que nunca seria o suficiente para descrever a profundidade do amor que eu senti por você, mas agora é a hora do verdadeiro adeus. Não do seu para mim, até porque você fez isso anos atrás de forma rude e que me fez sentir como se meu mundo tivesse se partindo ao meio, mas do meu para nós. Eu preciso viver. Preciso ter mais histórias para contar. Preciso me permitir amar e ser amada, com ênfase neste último. Preciso conhecer o mundo e tudo o que ele pode me oferecer. Preciso me desligar de você para poder me perder e enfim me encontrar. A partir de agora, você é um capitulo encerrado da minha vida. Sem final feliz, sem esperança de recomeço no próximo. Este é o momento no qual me desligo da nossa história, e, te prometo, que nunca mais contarei de você para ninguém. A partir de hoje, cada vez que meus pensamentos forem na sua direção os obrigarei a tomar outra rota. Nunca mais me questionarei em que ponto exatamente eu errei, porque, cara, eu entendi. Entendi que eu não errei com você, errei comigo mesma. Errei no momento em que me permiti fazer de você o começo e o fim de tudo.

Nesta carta que você jamais vai ler, muito embora seja o destinatário, deixo meu ponto final na história que deveria ter acabado naquele verão. Agora você é uma daquelas lembranças que enterramos lá no fundo que nunca mais a tiramos de lá. Agora você é passado e eu sou o futuro.

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